11 de setembro de 2010

Uma discussão a partir do Texto de Roberto Cardoso de Oliveira: "Por uma Etnografia das Antropologias Periféricas"

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Por uma Etnografia das Antropologias Periféricas. In: Sobre o Pensamento Antropológico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: CNPq, 1988.

Roberto Cardoso de Oliveira nos propõe uma discussão que vem desde os anos 60, tomando-se uma crescente conscientização crítica do exercício da antropologia em nosso país. Partindo da antinomia Identidade/Diferença, Oliveira, afirma que seria um meio para se compreender a antropologia ou as antropologias feitas na América Latina.

Essa dissociação latente na antropologia entre o fazer antropológico e suas implicações nos remete a várias discussões, entre elas o exame da identidade e das diferenças entre modalidades de antropologia, o que sempre nos sugere antinomias e a idéia de estilo que Oliveira tenta reproduzir de Gerholm e Hannerz para se poder pensar a diversidade da disciplina; o que não deixa de ser pertinente, pois a avaliação da antropologia a partir dessas antinomias explícita de certo modo as várias implicações da mesma, porém com algumas ressalvas.

O autor sugere duas antinomias: Centro/Periferia e Volkskunde/Völkerkunde (do alemão - folclore/etnologia). Como falei anteriormente, essa dicotomia nos permite compreender melhor o funcionamento dos “estilos” ou modalidades da antropologia, entretanto essa dubiedade nos deixa várias interrogações a serem feitas, pois essas “estruturas” estabelecidas através dessas antinomias podem dividir ainda mais a compreensão sobre o conhecimento do Outro e do próprio fazer antropológico.

A própria sugestão que Gerholm e Hannerz faz à cerca dos antropólogos metropolitanos e antropólogos da periferia e que Oliveira enfatiza em seu texto, nos denota que essa separação pode da evasão a um desinteresse cada vez maior dos trabalhos antropológicos entre ambos.

“Os antropólogos da periferia dão pouca atenção ao trabalho de cada um deles, a menos que esse trabalho seja reconhecido pelas antropologias metropolitanas (Gerholm & Hannerz, 1983:7)... Mas se esse padrão aponta para visíveis tendências observáveis nas antropologias periféricas, ele está longe de se prestar a nos proporcionar diagnósticos diferenciados do exercício da antropologia nos países que compõem essa ampla e diversificada periferia.” (OLIVEIRA, p. 152, 1988)

Na segunda antinomia que Oliveira propõe Volkskunde/Völkerkunde ele parte de uma antropologia voltada para dentro no que se refere à construção da nação e de outra voltada para fora, tomando como pressuposto povos exóticos (distantes). O autor utiliza o exemplo brasileiro para poder demonstrar essa antinomia, ele identifica duas grandes tradições no Brasil: os estudos indígenas e os estudos da sociedade nacional.

“... procurei identificar na antropologia que se faz no Brasil duas grandes tradições: a dos estudos indígenas (através da tradição praticamente etnológica) e a dos estudos da sociedade nacional (através de uma forma de articulação – e muitas vezes fusão, como nos estudos de comunidade – entre a antropologia e a sociologia.)” (OLIVEIRA, p. 153, 1988)

A meu ver, não tem como dissociar esses dois estudos antropológicos, pois eles possuem uma complementaridade intrínseca como afirma Mariza Peirano, os estudos indígenas tenderam a não dissociar a investigação dos grupos tribais do contexto nacional. O que Oliveira tenta evocar é justamente essa noção de “estilo”, como sendo capaz de orientar as investigações para aspectos menos sacramentados da antropologia.

Em linhas gerais, Oliveira, ao evocar essa noção de estilo, como sendo uma dimensão individualizante do exercício da disciplina, ela não se detém na esfera propriamente pessoal, pelo contrário, a entrada para a formulação da idéia de uma “estilística” da disciplina, nos remete uma compreensão de forma mais coerente da antropologia ou das antropologias.

Contudo, acredito que essa seja a forma mais coerente para se pensar a antropologia, partindo dessa noção de “estilo” que o autor tenta propor mesmo sem dá vazão para variantes estilísticas, mas parcialmente subentende-se que essa noção de estilo orienta-nos para aspectos menos rígidos da disciplina, resultando numa maior compreensão e interação.

2 comentários:

  1. Gostei, Jéssika, do seu estilo de abordar texto antropológico! bom trabalho!

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  2. Obrigada, tendo uma boa professora o resultado é esse!!!

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